sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Posicionamento da Igreja Católica

"11- CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS
(Células Estaminais Embrionárias)

De forma simplificada, células-tronco são células primitivas, produzidas durante o desenvolvimento do organismo que dão origem a outros tipos de células. É um tipo de célula que pode se diferenciar e constituir diferentes tecidos no organismo. Esta é uma capacidade especial, porque as demais células geralmente só podem fazer parte de um tecido específico (por exemplo: células da pele só podem constituir a pele). Outra capacidade especial das células-tronco é a auto-replicação, ou seja, elas podem gerar cópias idênticas de si mesmas.
Por causa destas duas capacidades, as células-tronco são objeto de intensas pesquisas hoje, pois poderiam no futuro funcionar como células substitutas em tecidos lesionados ou doentes, como nos casos de Alzheimer, Parkinson e doenças neuromusculares em geral, ou ainda no lugar de células que o organismo deixa de produzir por alguma deficiência, como no caso de diabetes.

:: As células-tronco são classificadas como:

Totipotentes - São as que conseguem se diferenciar em todos os 216 tecidos humanos.
Pluripotentes ou multipotentes - São as que conseguem se diferenciar em quase todos os tecidos humanos, menos placenta e anexos embrionários. Alguns trabalhos classificam as multipotentes como aquelas com capacidade de formar um número menor de tecidos do que as pluripotentes, enquanto outros acham que as duas definições são sinônimas.
Oligopotentes - Aquelas que conseguem diferenciar-se em poucos tecidos. Podem produzir células dentro de uma única linhagem.
Unipotentes - As que conseguem diferenciar-se em um único tipo celular maduro.

:: Onde as células-tronco podem ser encontradas?

As células-tronco totipotentes e pluripotentes (ou multipotentes) são encontradas nos embriões.
As totipotentes são aquelas presentes nas primeiras fases da divisão, quando o embrião tem até 16 - 32 células (até três ou quatro dias de vida). As pluripotentes ou multipotentes surgem quando o embrião atinge a fase de blastocisto (a partir de 32 -64 células, aproximadamente a partir do 5o dia de vida).
As células-tronco oligopotentes ainda são objeto de pesquisas, mas podemos dizer como exemplo que são encontradas no trato intestinal. Podem produzir células dentro de uma única linhagem.
As unipotentes estão presentes no tecido cerebral adulto e na próstata, por exemplo.

Células pluripotenciadas - Nos anos mais recentes , descobriram-se também em vários tecidos humanos células estaminais pluripotenciadas - na medula óssea, no cérebro, no mesênquima de vários órgãos e no sangue do cordão umbilical - isto é, células capazes de dar origem a outros tipos de células, na sua maioria hemáticas, musculares e nervosas.
Várias pesquisas em andamento sinalizam para a possibilidade de utilização de células-tronco de adultos no lugar de células embrionárias. Células-tronco da medula óssea de ratos podem produzir células nervosas; células-tronco do sangue podem ser convertidas em tecido do fígado. O sangue do cordão umbilical pode ser uma fonte de células-tronco capazes de originar qualquer outro tipo de célula ou tecido no organismo (sangue, sistema nervoso e músculo, por exemplo).

:: Diferença entre células-tronco embrionária e células-tronco adulta.

Células-tronco embrionárias são células primitivas (indiferenciadas) de embrião que têm potencial para se tornarem uma variedade de tipos celulares especializados de qualquer órgão ou tecido do organismo. Já a célula-tronco adulta é uma célula indiferenciada encontrada em um tecido diferenciado, que pode renovar-se e (com certa limitação) diferenciar-se para produzir o tipo de célula especializada do tecido do qual se origina.
A possibilidade, já comprovada, de utilizar células estaminais adultas para conseguir os mesmos objetivos pretendidos com as células estaminais embrionárias - apesar de se exigirem ainda muitos passos, em ambas as áreas aliás, até se obter resultados claros e definitivos - indica-a como a via mais razoável e mais humana a percorrer para um progresso correto e válido neste novo campo que se abre à pesquisa e a promissoras aplicações terapêuticas. Estas representam, sem dúvida, uma grande esperança para um número considerável de pessoas doentes.

:: Importância de armazenar o sangue do cordão umbilical da criança.

No cordão umbilical se encontra um grande número de células-tronco hematopoiéticas, fundamentais no transplante de medula óssea. Se houver necessidade do transplante, essas células de cordão ficam imediatamente disponíveis e não há necessidade de localizar o doador compatível e submetê-lo à retirada da medula óssea.

:: Aplicações das células-tronco.

Elas funcionam como células ‘curingas’, ou seja, teriam a função de ajudar no reparo de uma lesão. As células-tronco da medula óssea, especialmente, têm uma função importante: regenerar o sangue, porque as células sangüíneas se renovam constantemente.
Uma das principais aplicações é produzir células e tecidos para terapias medicinais. Atualmente, órgãos e tecidos doados são freqüentemente usados para repor aqueles que estão doentes ou destruídos. Infelizmente, o número de pessoas que necessitam de um transplante excede muito o número de órgãos disponíveis para transplante. E as células pluripotentes oferecem a possibilidade de uma fonte de reposição de células e tecidos para tratar um grande número de doenças incluindo o Mal de Parkinson, Alzheimer, traumatismo da medula espinhal, infarto, queimaduras, doenças do coração, diabetes, osteoartrite e artrite reumatóide.

:: Pesquisas com células-tronco no Brasil.

A terapia celular por auto-transplante de células-tronco adultas obtidas da medula óssea tem tido sucesso no Brasil no tratamento de pacientes com infartos do miocárdio e com doença de Chagas. E que esta terapia vem sendo realizada desde dezembro de 2001 pelo grupo do Instituto do Milênio de Bioengenharia Tecidual. E que vem utilizando, com sucesso, o transplante de células-tronco do cordão umbilical no tratamento de doenças degenerativas, sem necessidade, portanto, de destruir embriões humanos. E que as células-tronco adultas constituem uma alternativa muito válida às células-tronco embrionárias humanas com vistas à medicina regenerativa e restauradora no século XXI .

:: Lei de Biossegurança e a utilização de células-tronco.

Um dos pontos que mais polêmica tem causado na discussão sobre a lei de Biossegurança é o da permissão, dentro de certas condições, da utilização de células tronco embrionárias para pesquisas objetivando a cura de doenças graves, para as quais a suposta terapia com as células tronco embrionárias humanas seria a única ou a última esperança. É importante entendermos que estamos falando de células-tronco de origem embrionária (para a pesquisa com células-tronco embrionárias seria necessário a supressão – destruição - dos embriões e a vida humana deve ser respeitada, sempre, desde o seu início até o seu termo).
Com a aprovação da lei de Biossegurança no Brasil, fica permitido: O uso para pesquisa e terapia de células-tronco obtidas de embriões humanos de até cinco dias que sejam sobras do processo de fertilização in vitro, desde que sejam inviáveis para implantação e/ou estejam congelados há pelo menos três anos, sempre com o consentimento dos genitores; e fica proibido: realizar Engenharia Genética em óvulo, espermatozóides e embriões Humanos. Usar técnicas de clonagem para produzir embriões humanos, seja para obter células-tronco (clonagem terapêutica), seja para produzir um bebê (clonagem reprodutiva).

DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA

:: Células-tronco adultas:

A eticidade no uso de células-tronco provenientes de adultos será menos questionada e mais aceita pela comunidade religiosa. “O ponto de vista católico prestigia a ‘dignidade da vida’, da vida humana, salientando a continuidade da informação vital que existe desde a fecundação até a pessoa humana plenamente desenvolvida” .
O que devemos buscar nas pesquisas é a utilização de células-tronco de adultos. Nesse sentido, são bem vindas as pesquisas com células-tronco adultas, sendo já muitos os artigos científicos que comprovam experiências de curas, e o Brasil está muito adiantado em tais pesquisas, que devem ser incentivadas pois apontam para efetivos e expressivos benefícios para a população. Quanto a estas pesquisas, não apresentam problemas para a ética cristã.

:: Células tronco embrionárias:

Para a Igreja a utilização de embriões humanos para pesquisas científicas e que promovem a destruição destes embriões apresenta os mesmos problemas éticos do aborto. O embrião humano apresenta a dignidade de pessoa humana e como tal deve ser respeitado.
Aprovar uma lei que fere a vida, permitindo o uso de embriões para retirar deles as células-tronco terá como conseqüência a destruição de uma grande quantidade de vidas humanas em seu estágio inicial. A liberação de pesquisas com embriões humanos, não muda a compreensão que a Igreja tem da dignidade da vida humana em todos os estágios de seu desenvolvimento, desde os momentos iniciais, no ventre materno, até os momentos finais da aventura terrena. A vida humana tem um valor sagrado, ela é inviolável. Somos criados à imagem e semelhança de Deus.
Tal posição está confirmada pelo Magistério explícito da Igreja que, na encíclica Evangelium vitae - referindo-se já à Instrução Donum vitae da Congregação para a Doutrina da Fé -, afirma: “A Igreja sempre ensinou - e ensina - que tem de ser garantido ao fruto da geração humana, desde o primeiro instante da sua existência, o respeito incondicional que é moralmente devido ao ser humano na sua totalidade e unidade corporal e espiritual: O ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde esse mesmo momento, devem-lhe ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais, e primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida” . Portanto, não é moralmente lícito utilizar as Células Estaminais, e as células diferenciadas delas obtidas, que sejam eventualmente fornecidas por outros pesquisadores ou encontradas à venda. Isto porque, para além de compartilhar, formalmente ou não, a intenção moralmente ilícita do agente principal, no caso em exame dá-se a cooperação material próxima na produção e manipulação de embriões humanos por parte do produtor ou fornecedor.
Em conclusão, resultam evidentes a seriedade e a gravidade do problema ético levantado pela vontade de estender ao campo de pesquisa humana a produção e/ou o uso de embriões humanos, mesmo por motivos humanitários.

:: Células-tronco sem destruir o embrião.

Os cientistas defendem que as células-tronco, capazes de formar diferentes tecidos do corpo, podem levar, no futuro, à cura de muitas doenças. Os críticos argumentam que o método usado até o momento nesses estudos onde se torna necessário destruir o embrião de onde elas são retiradas, que passa pela destruição de embriões humanos, é um atentado contra a vida. Mas, pesquisadores anunciaram o desenvolvimento de uma forma de produzir células-tronco embrionárias humanas sem destruir o embrião e sem destruir seu potencial para a vida. Os pesquisadores afirmaram que a nova técnica permite que os cientistas criem um banco de células-tronco pessoais para as crianças antes mesmo de seu nascimento. A técnica consiste em fazer uma biópsia, retirando uma única célula de um embrião de dois dias. Para eles esta descoberta poderia eliminar as objeções éticas a esse tipo promissor de pesquisa. Esta nova técnica para obter células-tronco embrionárias sem destruir embriões viáveis dão argumentos àqueles que buscam financiamento público para este tipo de pesquisa nos Estados Unidos, onde atualmente a prática está proibida por razões éticas.

:: Posicionamento da Igreja Católica.

Para a Igreja esta nova técnica, mesmo não destruindo o embrião humano, não é lícita, pois incorre nos mesmos problemas morais da “Fecundação in vitro”, ou seja, a procriação é privada da sua perfeição própria quando não é querida como o fruto do ato conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos. O embrião na sua dignidade de pessoa humana deve ser respeitado desde a concepção. Portanto, a procriação humana está fundada sobre a conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o significado procriador. Na verdade, pela sua estrutura íntima, o ato conjugal, ao mesmo tempo que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher . Todo ser humano deve ser acolhido como um dom e uma bênção de Deus. Todavia, do ponto de vista moral, uma procriação verdadeiramente responsável com relação ao nascituro deve ser fruto do matrimônio.
Por isto, além dos problemas morais que envolvem a formação deste embrião, também o mesmo não pode ser utilizado como um meio, mesmo que o fim seja a cura de alguém.

Referências bibliográficas:

Estas informações são variáveis de acordo com o avanço das pesquisas.
cf. C. S. POTTEN (ed), Stem Cells, Academic Press, London 1997, pp. 474; D. ORLIC, T. A. BOCK, L. KANZ, Hemopoietic Stem Cells: Biology and Transplantation, Ann. N. Y. Acad. Sciences, vol. 872, New York 1999, pp. 405; M. F. PITTENGER, A. M. MACKAY, S. C. BECK e outros, Multilineage potential of adult human mesenchymal stem cells, Science 1999, 284, 143-147; C. R. R. BJORNSON, R. L. RIETZE, B. A. REYNOLDS e outros, Turning brain into blood: a hematopoietic fate adopted by adult neural stem cells in vivo, Science 1999, 283, 534-536; V. OUREDNIK, J. OUREDNIK, K. I. PARK, E. Y. SNYDER, Neural Stem cells - a versatile tool for cell replacement and gene therapy in the central nervous system, Clinical Genetics 1999, 56, 267-278; I. LEMISCHKA, Searching for stem cell regulatory molecules: Some general thoughts and possible approaches, Ann. N. Y. Acad. Sci. 1999, 872, 274-288; H. H. GAGE, Mammalian neural stem cells, Science 2000, 287, 1433-1438; D. L. CLARKE, C. B. JOHANSSON, J. FRISEN e outros, Generalized potential of adult neural stem cells, Science 2000, 288, 1660-1663; G. VOGEL, Brain cells reveal surprising versatility, Ibidem,
1559-1561, apud PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA. Declaração sobre a produção e o uso Científico e Terapêutico das Células Estaminais Embrionárias Humanas. 25 de agosto de 2000. Acesso www.vatican.va
cf Dr.ª Alice Teixeira Ferreira & Dr. Dalton Luiz de Paula Ramos; Projeto Ciências da Vida do Núcleo Fé e Cultura da PUC/SP.www.pucsp.br/fecultura/b004embr.htm
PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA. Declaração sobre a produção e o uso científico e terapêutico das células estaminais embrionárias humanas. Vaticano, 25 Agosto 2000. www.vatican.va
LEPARGNEUR, H. Células-tronco, mães de futura medicina regenerativa. O mundo da saúde. v.24, n.6, p.504
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Evangelium Vitae. n 60
Cf PAULO VI, Carta Encíclica Humanae Vitae, sobre a regulação da natalidade. São Paulo: Paulinas, 1968. n. 12"


Fonte: Comunidade Kerigma, scj.



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